Este livro se destaca por um olhar inovador sobre a obra de um dos maiores escritores de língua portuguesa e um dos autores mais pertinentes na literatura mundial do final do século XIX, mostrando sua importância no processo de transformação das técnicas narrativas no romance brasileiro e entrelaçando estas alterações com mudanças culturais decisivas no final dos oitocentos. [...] As observações feitas nesta monografia, a reflexão teórica, as afirmações e sugestões interpretativas foram elaboradas com conhecimento da vasta fortuna crítica da obra de Machado de Assis, em diálogo com seus representantes mais significativos. Revela-se aqui uma imersão na literatura e cultura do Brasil e na língua portuguesa sem, no entanto, abrir mão de um ponto de vista próprio, incluindo assim este livro no debate sobre questões fundamentais no âmbito de Estudos Brasileiros.
Da resenha do Prof. Dr. Henryk Siewierski, Universidade de Brasília
A pertinência do padrão de oralidade no Brasil (mesmo que este se evidencie pela persistência da auditividade), visível na obra de Machado e de outros autores (Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa, por exemplo), é entrelaçada à opção de Machado pelo singular e local (a “miopia” machadiana), abrindo-se desse modo um espaço para a reflexão sobre as características da modernidade brasileira. Se o advento da modernidade europeia se realizou por uma negação do oral, do local, do particular e do temporal (e no final do século XX, na modernidade tardia, pôde se observar um gradativo regresso a estas categorias), o caráter peculiar da cultura brasileira enquanto vinculada ao contato imediato, e da obra de Machado focada no singular, podem se traduzir por uma noção de modernidade alternativa em relação ao modelo europeu: uma modernidade que nunca assumiu o distanciamento e nunca incorporou plenamente o padrão da escrituralidade enquanto sua representação no domínio da comunicação.
Trecho do livro
Gabriel Borowski é professor do Departamento de Português e Estudos de Tradução da Universidade Jaguelônica de Cracóvia (Polônia), tendo lecionado também no Instituto de Línguas Românicas e Estudos de Tradução da Universidade da Silésia (Polônia). É membro colaborador do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, da American Comparative Literature Association e do conselho diretor da Associação dos Lusitanistas Poloneses. Autor de várias publicações na área de Estudos Literários e Estudos de Tradução e coeditor de volumes Punkt widzenia w literaturze, kulturze i języku (Ponto de vista na literatura, cultura e língua, 2015) e Diálogos no feminino: Maria Pawlikowska-Jasnorzewska & Florbela Espanca (2017), atua também como tradutor e intérprete.